Era 1993.

Tinha dois Fiat Uno.
Um era Uno Mille Electronic 93.
O outro, um Uno CSL 93. Ambos comprados 0 Km.
Parece uma incoerencia dizer NÃO à Fiat e ter sido proprietário de dois, não?
Então leia a minha história:

Meu Uno Electronic estava com 35.000 Km quando a correia dentada partiu. A fábrica sugere a substituição aos 40.000 Km (menor tempo se o veículo trafegar em estradas com muita poeira, o que absolutamente não é o meu caso). Estava pois a 5.000 Km da substituição. Fiz TODAS as revisões - sou cuidadoso com os carros - raras vêzes passo dos 80 Km/h, um motorista -sem modéstia- padrão.
Mas a correia partiu.
Esta correia custa cerca de 8 reais e pode ser substituída em 20 minutos. Mas não foi. Ainda faltavam 5.000 Km para, segundo a fábrica, fazer a substituição. E eu sou daqueles que lêem o manual.

E daí? Por que tanta suspense? Não bastou trocar a correia?
Se meu carro fosse de outra marca, sim. Muitos carros utilizam correia dentada para transmitir o movimento do virabrequim para o comando de válvulas. O problema não é este.
Sendo Fiat, a resposta é um sonoro NÃO.
Quando a correia parte (na verdade ela não arrebenta, apenas perde uns dentes), o comando das válvulas perde o sincronismo com o eixo de manivelas e o pistão acaba por colidir com uma ou mais válvulas, empenando-as ou mesmo partindo-as, como foi o meu caso.
Com a pancada do pistão sobre a válvula, ela partiu-se e caiu para dentro do cilindro, fazendo sulcos na parede antes polida, deformando a biela (ficou parecendo um perênteses!) e a vela que parecia ter sido golpeada seguidamente com uma marreta. O pistão fragmentou-se e caiu, aos pedaços, dentro do carter. Um motor de 35.000 Km (novo ainda), reduzido a escombros!
O resultado foi ter que retificar o motor, substituindo o jogo de cilindros, pistões, biela, velas e a maldita correia. O custo? 1/3 do valor do carro!

Esta história eu já conhecia mas pensei que só acontecesse com motoristas relaxados, que jamais fazem revisões, andam com pneus carecas, faróis descalibrados, etc. Mas agora senti na pele o que sempre me advertiram. E isto pode acontecer com você também.

Amanhã mesmo estarei vendendo os dois e pretendo nunca mais entrar numa bomba relógio destas! O homem pisou na Lua há mais de 20 anos! Não é possível que algum engenheiro na Fiat não consiga bolar um rebaixo no pistão que permita alojar as válvulas em caso de dessincronia do comando. O que acontece é a pura falta de interesse em resolver o grave defeito. Provavelmente confiam na desinformação do consumidor. O pior é que na Fiat já existe um tremendo programa de Qualidade que, ao que parece, não está funcionando muito...

Tenho sido um cara chato todos estes anos. Já tive mais de 10 Fiat, desde o 147 até o CSL. Tenho convencido amigos e parentes para que comprem Fiat. Tenho sido um vendedor anônimo, ouvindo piadinhas e inexplicavelmente defendendo o indefensável.
Agora, com as calças na mão, sou obrigado a reconhecer que não há respeito com os clientes. Uma merda de uma peça de 8 reais pode arruinar um patrimônio comprado a duras penas. E a Fiat está pouco se lixando para isto.
Se você já passou pelo "caso da correia dentada da Fiat", mande-me um e-mail contando um poucas linhas como aconteceu e o que teve que gastar. Depois vou publicar aqui mesmo um dossiê para o mundo.

Quando você estiver andando numa estrada deserta, de madrugada, com sua familia, pense na engenharia da Fiat.
E reze para chegar.

Cronologia:

Agosto de 96:  Vendi meus dois Unos. O Uno Electronic virou entrada de um Gol 1000, o Uno CSL transformou-se na entrada de um Escort.
Pela primeira vez em três meses voltei a dormir tranquilo...

Novembro de 98: Já estou no meu segundo Gol 1000 (já viram que gostei, né?). O Escort ainda é o mesmo de 96. Nenhum deles deu qualquer problema. Nem pneu furado!

Abril de 99: Sem problemas com os atuais carros. Tenho recebido muitos e-mails contando casos semelhantes.

Janeiro de 2000: Ainda não pretendo voltar aos FIAT's . O mais incrível é o silêncio de Quatro-Rodas, Fantástico, PROCON sobre este pouco caso da montadora italiana em relação aos consumidores brasileiros.

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